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“Só as crianças e os bem velhinhos conhecem a volúpia de viver dia a dia, hora a hora, e suas esperanças são breves.” Mario Quintana
Eu amo viajar, mas tenho o defeito de escolher destinos internacionais, grande parte pelo comparativo custo x benefício. Infelizmente, viajar para fora do Brasil compensa muito mais quando fazemos esse raciocínio básico. O efeito colateral disto é que eu sou mais uma brasileira que conhece pouco o seu próprio país.
No entanto, nos primeiros dias do ano eu tive a oportunidade de passar alguns dias entre Santa Catarina e Rio Grande Sul. Desta vez não tive oportunidade de entrar na bolha do turismo, então mergulhei em observações sobre a vida e as particularidades da região. Confesso que foi uma experiência bem interessante. De repente, São Paulo pareceu um lugar distante, com hábitos, pessoas e língua diferentes. Eu era uma estrangeira em meu próprio país.
As grandes redes de varejo eram memórias de uma cidade distante. Ali eu aprendi a reconhecer o comércio local, mesmo que de nome totalmente desconhecido para mim, como um local de qualidade e confiança. As redes e até mesmo pequenos comércios locais são muito valorizados. Aparentemente, é por isso que as grandes redes não sobrevivem muito tempo por lá. Também aprendi a me programar e fazer minhas compras de mercado antes das dez da noite e a descansar aos domingos, assim como fazem praticamente todos nas cidades. Mas essa lição veio depois de sair para comprar o jantar tarde da noite, como estou acostumada a fazer na cidade que nunca dorme. Abastecer também pode ser um problema dependendo do dia e do horário. Turista também é educado a valorizar o tempo de descanso dos prestadores de serviço, então, atenção ao relógio! Ah, também aprendi a assumir que paulista tem sotaque e aproveitei para aprender novas palavras.
Esses dias me fizeram curtir o pôr do sol sabendo que depois era a hora de ler um bom livro e descansar, mas também me fizeram voltar para casa pensando sobre o desprezo que damos para a rede de mercado desconhecida, a lojinha do nome de alguém desconhecido, a padaria que não abre nos feriados, o restaurante que fecha às 22h. Lá, longe desta terra onde nada é bom o suficiente, eu percebi que um pouco de tempo e humanidade faz bem para a sociedade e para alma.